quinta-feira, 24 de abril de 2008

Somos todos culpados

A notícia sobre o seqüestro de um estudante morador da Barra da Tijuca por uma quadrilha de porteiros horrorizou a classe media do Rio de Janeiro em Maio de 2007 e estimulou o debate sobre a construção de muros , grades e guaritas erguidas para nos dar proteção.Este fato ocorreu na mesma semana que um magistrado foi acusado de estar envolvido na venda de sentenças judiciais. Inicialmente foi vinculado ao jogo de bicho e bingos. A perplexidade foi grande e tem sempre alguém que tenta explicar a venda da dignidade, colocando a culpa na ação truculenta dos bicheiros caso o meritíssimo se recusasse a aderir as suas exigências. Divulgou-se em seguida, o envolvimento dele em ações mais sofisticadas tendo como cliente um grande banco, réu em uma causa que não vem ao caso. As defesas começaram a se fragilizar e caíram por terra quando nosso magistrado foi solto por razões que fogem ao entendimento da sociedade. E os demais colegas de “equipe” continuaram presos.
Ultimamente os brasileiros tem se surpreendido com ações criminosas no âmbito da classe média. E estamos chocados.
São rapazes que surram uma mulher, trabalhadora doméstica, na Barra da Tijuca, bairro de classe média alta do Rio de Janeiro. São os assassinos do índio Galdino que foi queimado em Brasília também por rapazes da classe média. É a sádica de Goiânia, empresária, que manteve em cativeiro meninas para torturar fisicamente por mais de cinco anos. Sem falar no bebe embrulhado em um saco plástico e atirado na lagoa da Pampulha pela mãe para morrer asfixiado e afogado. E por fim, um pai que mata a filha de seis anos embora se declare inocente, com o auxílio da mulher e madrasta da menina. Isto depois de maus tratos sofridos identificados pela perícia do caso.
O pano de fundo para todos estes crimes são os sucessivos escândalos políticos nas três esferas do governo - em 2007 foi o caso Renan Calheiros, presidente do Senado, envolvido com empreiteiras, amante e filha fora do casamento. No ano anterior o escândalo foi na Câmara de deputados protagonizado pelo Severino Cavalcanti, ilustre representante de Pernambuco e conterrâneo de Lula. O poder executivo comparece com os escândalos sobre mensalão, cartões corporativos, dossiês, política de favorecimento as centrais sindicais e a todos os grupos poderosos que podem apoiar tudo isso que ai está.
Não entendemos a atitude corporativista do Judiciário e nem as explicações dos ministros do executivo convencem as classes média e as menos esclarecidas, e ambas, com posturas diferentes, assumem suas indignações diante do salve-se quem puder. A interpretação da impunidade, para uma parte da sociedade é convite para entrar no crime. Afinal, qual o risco que se corre em seqüestrar pessoas, corromper o guarda de trânsito, assassinar com requintes de crueldade, desviar dinheiro, “fazer gato”, avançar o sinal, atropelar pessoas, falsificar aposentadorias ou subornar agentes do governo? Todos são crimes, uns de menor peso social, outros de maior peso e repercussão, mas todos são crimes previstos em lei. Cadê a punição para os culpados?
Está na hora da classe média dita mais esclarecida fazer alguma coisa. Repudiar enfaticamente o comportamento revelado no episódio com o magistrado. Mude-se a legislação que protege os agentes públicos, ser apenas condenado e preso não basta, a pena tem que atingir também o que mais dói - no bolso. Mude-se a lei e que estes maus cidadãos percam suas aposentadorias quando forem culpados. E isto servirá para todas as instancias do Estado.
A classe média pode colaborar não corrompendo o guarda da esquina, denunciando os fraudadores da Previdência,os agentes públicos e votando nas pessoas de bem. É assim que se constrói uma sociedade.
Já passou da hora de exigirmos o cumprimento da lei, da ordem e da proteção que o Estado nos deve, e não aderirmos à indiferença que condena as vítimas e não os culpados. “No Brasil tem lei que pega e lei que não pega”, é uma frase de alguém que não lembro, provavelmente um político. Sua divulgação deveria ter causado a prisão de seu autor antes que a moda pegasse. O discurso sobre o problema social no Brasil é recorrente. E de fato temos um baita problema. Mas ele não explica tudo e não deve ser usado como justificativa para todos os crimes. Temos que acabar com a impunidade. E a classe média tem que se mobilizar para fazer acontecer a sociedade que merecemos.

domingo, 13 de abril de 2008

Quanto pior, melhor

Se vocês estão pensando que vou falar de política, enganaram-se. Vou falar de briga entre amantes , de saudade, do querer saber e ver e ao mesmo tempo odiar ouvir que o outro está muito bem, obrigado. Quanto melhor o outro está, pior você fica, o estômago se transforma em uma bola oca. A boca enche-se dágua e o coração bate loucamente a cada notícia boa sobre o ingrato.
Lembrei-me disso durante a leitura de um texto atribuído ao Miguel Fallabela. Digo atribuído porque a INTERNET é um território desconhecido, qualquer um escreve qualquer coisa, assina com o nome de alguém famoso e, pronto, roda o mundo. É o outro lado da moeda da INTERNET, o lado obscuro, impessoal e perigoso.
Mas voltando ao texto “atribuído” ao Fallabela, enquanto o lia, ia me lembrando do meu amigo Mello, morto em 1991 em um acidente de carro quando chegava a uma festa em uma boate na zona sul do Rio de Janeiro. Coisas do destino. Se ainda tivesse sido na saída da festa seria mais aceitável, após uma grande noitada, o acidente. Mas foi antes quando tudo ainda estava para acontecer. Era um sujeito interessante, meio cínico, mas uma boa e divertida companhia. Havia dado uns tiros na ex-mulher quando descobriu que ela estava namorando “outra’ que, diga-se de passagem havia sido apresentada por ele mesmo durante o período de tédio no casamento. Não teve nenhum espírito esportivo. Apesar dessa escorregada, a convivência era divertida e uma boa camaradagem se estabeleceu entre nós. Tornamo-nos bons amigos. Foi o único engenheiro que conheci que tive alguma afinidade. Sou preconceituosa quando avalio as pessoas. Engenheiro? Não combina comigo, são os sabe-tudo. Médico? Infiéis no DNA, talvez a proximidade da morte lhes dê esta urgência de viver. Gosto dos economistas e analistas de sistemas. Casei com um e estou muito feliz.
Voltando ao Mello, meu amigo dizia umas coisas interessantes. Uma delas era sobre a minha idéia sobre engenheiros. Assumia um olhar maroto e dizia ”.. engenheiros são chatos mesmo, eu também acho. Só eu que sou interessante.” Uma outra vez, filosofando em um botequim do Leblon, saiu-se com esta ”...- Quanto melhor o outro está, pior a gente fica.” Não lembro a propósito de quê teria dito isto mas achei a frase muito engraçada, uma manifestação realista das emoções vividas em uma separação. Tanto assim que dezesseis anos depois, lembrei da frase que me pareceu retumbante na ocasião. A ligação com o texto “atribuído” ao Fallabela é a melancolia narrada por este quando o amor acaba de um lado mas não do outro. Como sobreviver sem saber se ele está freqüentando o curso que tinham combinado fazer juntos? Ao mesmo tempo, a dor que se sente que sim, ele esta indo ao curso e está adorando! Até novos amigos já fez, em especial uma morena esguia e cheia de opinião, cujos trabalhos só recebem elogios de todos. Até chopp está bebendo, ele que não abria mão de um bom vinho quando saíam para aqueles jantares gostosos e a dois.
A natureza humana, no período da dor de uma separação torna-se simultaneamente masoquista e sádica. Alguns passam meses investigando o ex, como está, com quem sai, se emagreceu é porque está com saudades – a esperança reacende. Se engordou é porque esta mal, pode estar sentindo sua falta. Nesse caso, nosso astral pode até melhorar, pela teoria do Mello. Nos tornamos insensatos, rancorosos e vingativos – ta feio?... Melhor. Bateu com o carro? Bem feito. Engordou? Tomara que fique cada vez mais gordo e velho.
Mas um dia, a gente acorda e “puf”, não resta mais nada. Acabou o rancor, o envolvimento e a vontade de saber como o outro está. Passou, acabou e você nem se interessa em saber se ele está bem ou mal. Não tem mais importância. A ansiedade ficou para trás e você esta livre para viver um outro amor. Belo final , não é mesmo? O Mello também dizia isso ”....se não acabou bem é porque ainda não é o final”.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Cirurgia Plástica, voce ainda vai fazer uma

Um dia, distraídos passamos em frente a um espelho qualquer e: “Epa, este rosto não me pertence, esta que me olha do espelho não sou eu!.”
Após o choque, surge a vontade de dar uma “puxadinha” ou uma “aspiradinha”. Não é verdade? Quem é a mulher de meia idade que em frente ao espelho do seu banheiro, com o trinco passado, não leva as mãozinhas ao rosto e estica as pelinhas que estão sobrando? Ou abre os olhos escondidos pelas pálpebras que teimam em cair sobre eles? O tal do bigode chinês, que horror! A ruga que vai do nariz ao queixo na perpendicular e que a ação do tempo faz da linha quase uma paralela ao queixo. Ou se olha de lado para ver em qual “degrau” esta a dita cuja. E os homens? Não são diferentes não, encolhendo a barriga e fazendo pose de halterofilista? Puxando os “pneus” para trás para lembrar como eram antes da barriguinha de chopp se instalar.
O que leva uma pessoa a se submeter a uma cirurgia plástica? Afinal de contas envolve todos os riscos de outra cirurgia qualquer. O risco da anestesia, o resultado que pode não ser o esperado, o desconforto no pós-operatório. Mas os indicadores só fazem aumentar, incluindo ultimamente o sexo masculino na pesquisa.
Na verdade, a resposta para o aumento na procura deste tipo de cirurgia está ligado a longevidade. Estamos vivendo mais, a expectativa de vida só faz subir e a mudança no paradigma da velhice – a geração da minha avó era velha aos 30 anos, é uma conjunção favorável a correções estéticas. Hoje nos recusamos a sermos velhos aos 60. Passamos a cultivar mais a saúde, fazemos caminhadas, musculação, dançamos, namoramos e participamos da vida social e política do país. Somos jovens na cabeça e na atitude diante da vida. Então, um espelho traiçoeiro aparece no nosso caminho.
“- Eu não faço, acho uma bobagem ...Além do mais temos que ter dignidade para envelhecer."
As palavras são acompanhadas em geral por uma expressão de superioridade, fazendo você se sentir frívola, perua e ridícula. Todos nós já ouvimos isso ao manifestar o desejo de uma plástica para alguma amiga ou em uma roda de conversa na piscina do clube. Em geral vem das pessoas que gostariam de fazer (e até precisariam) mas não tem coragem de admitir. Estes casos só o divã poderá resolver.
Alguns tipos de cirurgia plástica, desde o início, foram considerada como um comportamento superficial, talvez porque tenham sido praticadas de início na classe rica, pelas dondocas que não queriam envelhecer, jovenzinhas para sempre. As excluídas morriam de inveja. Depois que o custo foi reduzido, tornou-se um procedimento acessível a outras classes sociais. Atualmente até alguns hospitais públicos tem atendimento e enfermarias específicas para isso. Mas o preconceito continua. Pintar o cabelo pode, não é mesmo? Operar o nariz também, seios grandes que pesam também pode. Mas implantar silicone para aumentar não pode. Lipoaspiração é sempre seguida por um “Oh... mas você tem coragem?”Claro, existem pessoas que exageram na busca obssessiva da eterna juventude. Mas não estamos falando disso. Não estamos falando de mudanças radicais no corpo, com silicones exagerados nos peitos e glúteos ou de expressão facial com lábios a “la Angelina Jolie”, olhos asiáticos e nariz de pequinês. A medicina tem aplicado milhões em dólares em pesquisas no projeto Genoma. Um projeto que promete uma revolução na humanidade. E não será somente na questão de doenças. A estética virá na esteira dos resultados principais. E as mudanças não serão limitadas à medicina- relações sociais, trabalho e previdência serão atingidos diretamente. Mas isto é outra história.
Por que rugas se a medicina nos oferece os recursos necessários a nos mantermos esteticamente agradáveis ao olhar? Exageros a parte, sou favorável e faço parte daquele grupo que adota as tais correções. Não seremos jovens para sempre, nem a proposta da cirurgia plástica é esta . Mas sempre poderemos ser agradáveis ao olhar.