domingo, 13 de abril de 2008

Quanto pior, melhor

Se vocês estão pensando que vou falar de política, enganaram-se. Vou falar de briga entre amantes , de saudade, do querer saber e ver e ao mesmo tempo odiar ouvir que o outro está muito bem, obrigado. Quanto melhor o outro está, pior você fica, o estômago se transforma em uma bola oca. A boca enche-se dágua e o coração bate loucamente a cada notícia boa sobre o ingrato.
Lembrei-me disso durante a leitura de um texto atribuído ao Miguel Fallabela. Digo atribuído porque a INTERNET é um território desconhecido, qualquer um escreve qualquer coisa, assina com o nome de alguém famoso e, pronto, roda o mundo. É o outro lado da moeda da INTERNET, o lado obscuro, impessoal e perigoso.
Mas voltando ao texto “atribuído” ao Fallabela, enquanto o lia, ia me lembrando do meu amigo Mello, morto em 1991 em um acidente de carro quando chegava a uma festa em uma boate na zona sul do Rio de Janeiro. Coisas do destino. Se ainda tivesse sido na saída da festa seria mais aceitável, após uma grande noitada, o acidente. Mas foi antes quando tudo ainda estava para acontecer. Era um sujeito interessante, meio cínico, mas uma boa e divertida companhia. Havia dado uns tiros na ex-mulher quando descobriu que ela estava namorando “outra’ que, diga-se de passagem havia sido apresentada por ele mesmo durante o período de tédio no casamento. Não teve nenhum espírito esportivo. Apesar dessa escorregada, a convivência era divertida e uma boa camaradagem se estabeleceu entre nós. Tornamo-nos bons amigos. Foi o único engenheiro que conheci que tive alguma afinidade. Sou preconceituosa quando avalio as pessoas. Engenheiro? Não combina comigo, são os sabe-tudo. Médico? Infiéis no DNA, talvez a proximidade da morte lhes dê esta urgência de viver. Gosto dos economistas e analistas de sistemas. Casei com um e estou muito feliz.
Voltando ao Mello, meu amigo dizia umas coisas interessantes. Uma delas era sobre a minha idéia sobre engenheiros. Assumia um olhar maroto e dizia ”.. engenheiros são chatos mesmo, eu também acho. Só eu que sou interessante.” Uma outra vez, filosofando em um botequim do Leblon, saiu-se com esta ”...- Quanto melhor o outro está, pior a gente fica.” Não lembro a propósito de quê teria dito isto mas achei a frase muito engraçada, uma manifestação realista das emoções vividas em uma separação. Tanto assim que dezesseis anos depois, lembrei da frase que me pareceu retumbante na ocasião. A ligação com o texto “atribuído” ao Fallabela é a melancolia narrada por este quando o amor acaba de um lado mas não do outro. Como sobreviver sem saber se ele está freqüentando o curso que tinham combinado fazer juntos? Ao mesmo tempo, a dor que se sente que sim, ele esta indo ao curso e está adorando! Até novos amigos já fez, em especial uma morena esguia e cheia de opinião, cujos trabalhos só recebem elogios de todos. Até chopp está bebendo, ele que não abria mão de um bom vinho quando saíam para aqueles jantares gostosos e a dois.
A natureza humana, no período da dor de uma separação torna-se simultaneamente masoquista e sádica. Alguns passam meses investigando o ex, como está, com quem sai, se emagreceu é porque está com saudades – a esperança reacende. Se engordou é porque esta mal, pode estar sentindo sua falta. Nesse caso, nosso astral pode até melhorar, pela teoria do Mello. Nos tornamos insensatos, rancorosos e vingativos – ta feio?... Melhor. Bateu com o carro? Bem feito. Engordou? Tomara que fique cada vez mais gordo e velho.
Mas um dia, a gente acorda e “puf”, não resta mais nada. Acabou o rancor, o envolvimento e a vontade de saber como o outro está. Passou, acabou e você nem se interessa em saber se ele está bem ou mal. Não tem mais importância. A ansiedade ficou para trás e você esta livre para viver um outro amor. Belo final , não é mesmo? O Mello também dizia isso ”....se não acabou bem é porque ainda não é o final”.

3 comentários:

gustavocarmo disse...

O Mello atirou na mulher e foi à discoteca? Ou ia, se não tivesse morrido antes?

Posso te dar uma sugestão? Tem como aumentar a letra do texto e colocar uma fonte sem muita cerifa? Está difícil de ler. Já tenho 30 anos. A minha vista está cansada,rsrs

dade amorim disse...

O Mello tinha razão...
abraço pra você, Tania.

Unknown disse...

Muito bem escritos, Tânia e Ana. Muito bem representadas nossas questões e conflitos (que diabos, não nos deixam em paz, nem aos 50).
Bjos prás duas.